terça-feira, 5 de março de 2013

Capotaria - Papai Noel - 28/02/2013

Algumas coisas a gente não prevê.

Há uma certa limitação na minha forma de ver o mundo. Eu vejo uma cidade com pontos de referência, e caminhos que os ligam. Minha cidade adotada consiste numa rede de cafés, restaurantes, bares, shoppings e trabalho. Entre tudo isso, há uma massa uniforme de paisagem sem identidade ou propósito específico. Somado ao hábito de andar lacrado em vidros fechados, ar condicionado e música, o isolamento é total.

Parar no meio do nada pode ser uma surpresa. Ali, no meio do (meu) nada, numa tarde besta de quinta-feira, me deparo com um senhor numa máquina de costura em sua varanda. Em cima os dizeres: capotaria Darlo.

Impulsivamente parei a moto. Afinal, meu sissy bar apresenta problemas, o alforge está arranhando a pintura e a bolsa que fica na frente do farol insiste em abrir acima de 12x... bem... 60 km/h.


 
Sou imediatamente recebido pelo Darlô, e resolvi perguntar:
 
- Será que o senhor poderia me ajudar? A alfomada do meu encosto não encaixa perfeitamente, então será que o senhor poderia fazer outra, um pouco maior?
 
- <depois de sair, olhar, tirar medidas etc> Sim, passe aqui amanhã e pegue.
 
- Só isso?
 
- Sim, não se preocupe.
 
- Oooook. E esse alforge, ele está arranhando a pintura, pois a parte de trás é de plástico e ainda apresenta rebites de metal que se chocam com o quadro da moto. Há algo a ser feito?
 
- Deixe aqui também. Retorne as 15h.
 
 
 
 
Com isso fui embora... deixei um alforge e só. Não tinha muitas expectativas. Afinal foi algo aleatório de uma paisagem que, até então, não tinha identidade ou propósito. Cheguei a comentar com um colega do mundo das motos. Nas palavras dele "Capoteiro que entrega algo em um dia? Papai Noel existe se isso acontecer!".
 
 
Pois bem, sexta-feita, 14h (1 hora mais cedo) me dirijo ao lugar. Estava curioso para ver o que tinha acontecido. Sou imediatamente recebido por dimenor:
 
 
 
Enquanto dimenor de diverte mordendo minha mão, Darlô me explica que o material está pronto, apensas precisará de alguns ajustes que podem ser feitos depois. Primeiro o mais importante: se o encosto ficou com espuma boa, e se ficou um pouco maior, como pedi:
 
 
 
Exatamente o que eu queria. Está fixo por 3 parafusos, não gira mais. Não ficou assim perfeito. Precisa de um couro mais grosso e uns ajustes atrás. Todos os ajustes incluídos no trabalho que o senhor fará posteriormente. Quero andar um pouco antes.
 
E o alforge? Não há mais parte de trás de plástico e tampouco rebites arranhando minha pintura (prontamente consertada num funileiro ótimo: conto em outra ocasião):
 
 
 
 
Para finalizar, ainda colocou um velcro básico na minha bolsa. Agora ela não abre mais em 12x... 60km/h.
 
Tudo resolvido, inevitavelmente ele me contou um pouco da história dele. Baiano, morando aqui a 40 anos, naquela mesma casa, trabalhando na mesma varanda. Coisas da vida. E o preço? 100 reais... tudo, incluindo o ajuste depois. Já vi lugar querendo vender almofada por R$500,00.
 
No final, ao ir embora, eu tenho certeza que meu mundo ainda é pequeno, mas ficou um pouco maior. Agora minha cidade adotada consiste numa rede de cafés, restaurantes, shoppings, trabalho, bares, capotaria do Darlo e a possibilidade de encontrar outros lugares assim. Ficou perfeito? Não. Precisava? Para mim, não.
 
Ps. Neste dia, Papai Noel existiu, afinal.
 
Pax.