domingo, 22 de setembro de 2013

Planejamento

Recentemente ouvi uma estória curiosa sobre motoclubes. Um integrante estava orgulhosamente contando que havia realizado uma série de reuniões para uma viagem. Até aí, tudo bem... mas então veio a informação de que a "viagem" seria de 270 quilômetros.

Veja bem, não são 270 quilômetros para a primeira parada. São... 270 quilômetros. Que diabos de associação burocrática requer encontros e mais encontros para isso? Isso é motoclube?

Hoje, domingo, fiz um passeio. O planejamento consistiu em umas poucas trocas de mensagens:

"Vamos rodar?"
"Claro."
"Suba para Pedra Azul."
"ok"

Nada de reuniões, as conversas foram todas onde devem ser, nas paradas que fizemos na estrada mesmo... e não no encontro semanal realizado no mais distante lugar que o grupo roda... o boteco do bairro.

Essa brincadeira resultou num passeio ótimo, por estradas do interior que não conhecia. Daquelas que você não divide com caminhões e se preocupa apenas com a paisagem e curvas.

(303 kms, só um passeio)

Eu não sei como alguém tem paciência para uma organização assim, onde se fala mais de viagens do que se viaja. Eu não tenho clube, tenho (poucos) amigos; não tenho "brasão", mas tenho as estradas e quilometragem. E estou chegando a conclusão de que isso me basta.

 
 
 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

A relação homem máquina

"Toda grande jornada começa com o primeiro passo" - Lao Tsé


Começo este texto dizendo que sou um completo ignorante em mecânica. Quem me conhece pode até questionar: você? Mas você montou o projeto do seu Opala SS de pista, concebeu o fiat 147 (é...) ninja, deu pitaco na preparação da sua Harley...

Pode ser. Em teoria, sou bom para pesquisar, opinar e tudo. Mas quando preciso trocar a lâmpada de um farol já quero terceirizar. Curiosamente, nunca me incomodou com carros... mas a relação com a motocicleta é diferente; não sei explicar como, mas é mais próxima... talvez porque ela possa te matar com mais facilidade.

Me sinto vítima das palavras de um botequeiro (de boteco, não confunda) aí: " O homem, submetido a este domínio tecnológico, demonstra  a impossibilidade técnica de ser ele autônomo e de determinar a sua própria vida. "

Pois bem, resolvi mudar isso, e resolvi... lavar a moto. Coisa simples, besta... mas que cobram caro pra diabo. Parece seguro, certo? simples demais. Dica: Não coloque o dedo na frente de um jato de água de alta pressão!


Muito esperto.                                                                                        Máquina assassina



Então, parti, em conjunto com outra anta, em direção a jornada estúpida. Armados de sprays de silicone (meu primo só aceitou o perfumado), wd 40 (genérico) e detergente neutro (furtado da cozinha), baldes, esponjas e panos, demos início a essa epopeia.




E o resultado?

Uma merda. Quer dizer, merda não... nota cinco vai. Mas foi muito mais divertido que mandar alguém fazer, de verdade. A próxima sairá um pouco melhor, e será regrada a algum destilado para tornar a coisa mais legal.

Próximo passo: conjunto de ferramentas. Chega dessa dependência toda.




quarta-feira, 22 de maio de 2013

Viajar sob a chuva... e à noite? ES-SP sob as águas.

Viajar à noite sempre dá medo. Sempre que se fala no assunto, muitos tem calafrios e perguntam: "Você é louco? É perigoso!". Ligam a noite, instintivamente, à possibilidade de morrer. É de se esperar, pois até os gregos acreditavam que a morte nasceu da noite  (do grego antigo: Νύξ, "night", mãe de Thanatos, a morte).


( At Museum of NY: Detail of Nyx, the goddess of the night, driving her chariot down from the sky with the rising of the sun-god Helios.)
 
É, é perigoso sim.
Não, não desisto. Não é perigo que vai me afastar da estrada, mas sobre isso já falei em outro <lugar>.
Assim, ao sair do trabalho na sexta feira, 17/05/2013, 22:40h (estão achando que é fácil manter a Lily? Como toda mulher refinada, é cara: she has expensive tastes), subi na moto com a velha calça jeans, camisa, jaqueta de couro e luvas no corpo; uma bermuda, cueca e par de meias no alforge e segui para Campinas.

Meus planos, inicialmente, eram simples (não é assim que sempre começa?): pegar a moto, seguir até o início da estrada, dormir umas 4 horas num motel qualquer, depois seguir viagem. Eis que, checando o celular, me deparo com a deprimente mensagem, enviada pelos meus amigos legais que se deleitam com a miséria alheia:



Então era assim. Chuva de fechar aeroportos seguindo... na minha direção... vindo... do meu destino. Fala sério! Minha solução? Desistir? Nem passou pela minha cabeça, sacudi o cansaço de uma semana de trabalho e resolvi pilotar até dar de cara com a chuva. Assim que isso acontecesse, iria procurar um lugar para dormir.

Pilotar à noite, me desculpem os fanáticos por segurança, é uma das melhores experiências que você pode ter. É difícil colocar em palavras, tem que ser vivenciado, nem que seja para falar que não gostou. Mas não conheço solidão maior que pilotar na estrada, de madrugada, com apenas seu farol iluminando a pista. Adepto do "O inferno são os outros" como eu sou, é um experiência e tanto.

Voltando, saí do estacionamento e peguei meu rumo em direção a br 101-->av. Brasil--> Dutra. Peguei chuviscos, chuva fraca, continuei, meu casaco coxa da Harley (mais discreto que o do Fantini) segurou a chuva legal. Aqui a estrada ruim causa tensão, uma vez que, apesar de não haver buracos, não há sinalização nem sequer faixa delimitando o meio da pista. Some a isso a chuva e eu adotei minha técnica gambiarra: Escolhi um caminhão andando a mais de 80km/h, dei uma distância boa e segui a luz de freio. Daí eu seguia pelas faixas do pneu e qualquer oscilação indicaria buracos na pista. Foi tranquilo... passada essa parte segui normalmente.

Quando cheguei em Campos, horas depois, começou a chover canivete com força. Parei no posto BR para abastecer (e responder as enjoadas questões de quantas cilindradas tem a moto, quanto já dei nela etc) e parei no terceiro hotel, pagando 45 reais por uma noite com ar condicionado, banho quente e café da manhã (tosco, mas quem está reclamando?).

Cinco horas depois, pé na estrada e uma tranquila e entediante (que desgraça de radares na Dutra) viagem para Campinas. 19h, aproximadamente, passo o último pedágio e sou instruído por Paulinho Henn a ir DIRETO para um PUB. É, direto, sem direito a descanso nem nada... fazer o que, vamos nessa! Lá sou recebido com todas as honras (leia-se, n.7) e espanto por ter encarado 1000kms à noite, só de jeans e jaqueta de couro (sem inveja Fantini, a sua chama mais atenção!).


"Mas você é louco, não usou calça de couro?"
"er... não, não quis ingressar no < Blue Oyster Bar >." (perco amigos, piada nunca).
"E o frio, e a chuva?"

Como disse Raul Seixas: "É minha amiga, e não vou me resfriar."

 

Já que motowhatevers (acho que vou escolher essa denominação para mim) gostam tanto de falar em batismo, talvez este tenha sido o meu. Com direito a toda água que alguém poderia desejar, e mais um pouco.

Pax.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Harley Davidson: apenas uma motocicleta ou estilo de vida?


Se tenho que explicar, você não entenderia.

Motto de algumas pessoas que andam em Harleys. Mas meu foco será um pouco diferente. Eu não vou passar páginas explicando a origem de MCs ou a história da Harley Davidson. Não faço parte de motoclube nem tenho 1903 tatuado no meu corpo. O que segue é uma impressão que ficou, em última análise negativa, a respeito dos posicionamentos de integrantes do mundo do motociclismo.

Muitas pessoas assumem que essa frase significa uma superioridade da Harley em relação a toda a plebe do universo (aqueles que não tem harley... mais os que tem subharleys, como sportsters ou até, valha-me, v-rods). Possuir uma Harley de verdade significa andar sobre um Big Twin apropriado (96"+... ou 88", 74"... para saudosistas), legitimando-o como um Aristoi (um dos melhores, excelentes, entre pessoas comuns). Semelhante à autoridade conferida a Arthur pela Excalibur, essas criaturas desfilam, considerando tudo aquilo que caminha sobre as estradas seus súditos por hierarquia natural. Esses indivíduos costumam andar com o maior número de badulaques produzidos pela marca e, reza a lenda, realizam um concurso de quem consegue chegar ao final de cada ano com a menor kilometragem possível.

 ( quem serve quem? )

Do outro lado da moeda, você tem os caras "too cool for school" (no, really, go learn English). Esses são uma raça curiosíssima. Eles sentam o pau na Harley, dizem que o ditado é pura babaquice, que estão muito acima disso... mas ANDAM DE HARLEY. Eles inventam mil desculpas, mas a verdade é que eles poderiam a qualquer momento trocar a moto deles por uma melhor e mais barata, de um ponto de vista utilitarista. Afinal, "qualquer moto chega a qualquer lugar" (a não ser que você tenha 150 kilos e queira subir a serra de pop 100). No fim, gostam da marca mas não querem ser taxados de harley fans, ou piolhos de concessionária. Então se escondem atrás de um sorriso de desprezo, a la Devil May Care, e estocam tudo aquilo relacionado a marca embaixo da cama para dormirem abraçadinhos quando apagam as luzes para dormir, sem testemunhas.

(sou tão cool pagando para usar uma camisa "contra cultura"... mas montado na minha Harley. E de preferência sem saber a razão da crise que gerou isso.)
 

Eu... honestamente, acho que são dois extremos de comportamento que se merecem. São dois extremos de arrogância que, simplesmente, não nutro a necessária paciência, ou amor a humanidade, para ficar perto por muito tempo.

Então tá... eu não acho que Harleys são a única forma de conhecer o verdadeiro motociclismo... também não acho que elas sejam "meras motocicletas caras demais e sem nada especial frente as outras". So what? Onde diabos me posiciono?

O ditado do início do texto faz sentido, para mim.

Eu gosto da minha moto por ela ser uma máquina adequada para viagem. Motor forte, torque violento, confortável, com visual que eu curto e som que dá gosto. Reconheço que há outras motos boas no mercado, que andam tanto ou muito mais que a minha, que são mais baratas e tal.

Entretanto, minha visão de mundo não é apenas utilitarista, é também cultural. Me agrada saber que a moto que eu tenho foi marcante na história americana, que eu gosto. Me agrada saber que ela deixou sua marca na forma como vemos o motociclismo. A tradição da marca não pertence apenas aos donos, muito menos às concesionárias atuais. Se as coisas não vão bem, vou brigar para melhorá-las, pois a história é pública (mas eles ficam mais ricos do que eu, fazer o que?).

Para quem não dá tanta importância à questão de contexto, história americana (ou em geral), ou é um pouco mais utilitarista, acho válido escolher dentre as diversas boas marcas no mercado e isso não diminui em nada a experiência da pessoa. Mas não venha me dizer que isso seria igual para mim pois não seria. Não troco minha moto (quem sabe isso muda um dia), pois ela me traz um prazer tanto pela máquina quanto pelo contexto da marca. Assumo.

No final, por que se diz que não dá para explicar? Bem, por completo não dá mesmo. Como explicar o prazer de andar numa moto durante 20 horas... cobrir mais de 1000kms (ou coloque aqui qualquer número que ache bom) sob dia, noite, calor, frio, sol, chuva, barro, para quem nunca viveu isso? Como explicar aquele momento onde o mundo é você, a moto e a estrada... somado (para mim) o fato de eu estar realizando isso com uma marca que eu respeito, independente da situação atual, pelo seu papel na história? Para quem dá importância, a experiência na Harley é diferente sim, e difícil de explicar mesmo... para quem não liga, ou prefere outras marcas, que essa pessoa ande em qualquer moto e terá o mesmo prazer, repito, sem diminuí-la em NADA (ou tenha essa relação com outra marca: indian, bmw, honda, sei lá).

Mas puta merda: para aqueles que acham que Harley é melhor coisa do mundo não apenas para eles, mas para todo o universo... para aqueles que andam de Harley, não trocam mas ficam com firula de assumir que gostam e respeitam  marca (enrustidos!), uma dica: Vão sentar num poste... com cerol.

Pax.


Sugestões para leitura:

http://www.amazon.com/American-Biker-History-Clubs-Lifestyle/dp/0615375952/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1368720256&sr=8-1&keywords=american+biker

http://www.amazon.com/Hells-Angel-Barger-Angels-Motorcycle/dp/0060937548/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720314&sr=1-1&keywords=sonny+barger

http://www.amazon.com/Hells-Angels-Strange-Terrible-Library/dp/067960331X/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-2&keywords=booze+fighters

http://www.amazon.com/Original-Wild-Ones-Boozefighters-Motorcycle/dp/0760335370/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-1&keywords=booze+fighters   (este último não li ainda, acabei de comprar... indicação porca essa ahahahah)




quarta-feira, 24 de abril de 2013

Motociclismo - segurança, coragem, filosofia de boteco...

Mais um rascunho da história de formação de um motociclista/motoqueiro/motowhatever.

Uma das minhas primeiras preocupações foi a segurança. Veja bem. Eu não tinha CNH... eu tinha comprado uma moto, e achei razoável a ideia de investir naquilo que há de bom e melhor.

(quanto mais melhor?)

Como resultado aproveitei que estava fora da terra pátria e saí comprando. Era um tal de armadura, jaquetas de couro, botas estilo Valentino Rossi, luvas reforçadas, capacetes de marca... enfim, deu para sentir o drama, certo?

Pois então: cheguei de viagem, peguei minha moto e comecei a brincar de motoqueiro. Jaqueta de couro é ótima... até você pegar 35 graus e sol na nuca meio dia parado no sinal. Bota armadura é ótima... na vitrine; é desconfortável, dura demais e você parece um figurante de seriado japonês. O capacete então foi uma desgraça... eu uso óculos... para colocar e tirar era uma merda. E eu estava perdido no Rio. Cada vez que eu queria pedir informações era um martírio.


Some a isso o problema do volume da tralha toda que você carrega para cima e para baixo. A verdade é que essas coisas estavam me desanimando de andar de moto. Eu andava ainda... mas o prazer era mitigado por um desconforto crescente.

E então, aos poucos, percebi que a resposta para o meu motociclismo (leia-se, MEU) poderia ser expressa pelo pensamento de Aristóteles (o grego mesmo). Veja bem, Aristóteles deixou uma ideia genial de que a virtude é um equilíbrio que pode gerar vício por DUAS formas: falta e... pasmem... excesso:

está na natureza dessas coisas [virtudes] o serem destruídas pela falta e pelo excesso [...]  Tanto a deficiência como o excesso de exercício destroem a força; [...] O mesmo acontece com a temperança, a coragem e as outras virtudes, pois o homem que a tudo teme e de tudo foge, não fazendo frente a nada, torna-se um covarde, e o homem que não teme absolutamente nada, mas vai ao encontro de todos os perigos, torna-se temerário [Aristóteles, Ética a Nicômaco]

O excesso de segurança, no meu caso, estava estragando, dentre outras coisas, minha própria segurança: eu não me concentrava direito, me irritava com o excesso de coisas, me reduzia o prazer. A solução? Achar, racionalmente, o meio-termo. É entre o excesso e a falta que encontrei MEU equilíbrio. Não tenho vocação para andar que nem astronauta, nem para acreditar que uma bandana na cabeça me protegerá de todos os males. Alguns exemplos:

  • Luvas? Gosto, uso sempre com prazer.

  • Jaqueta? Tenho uma de verão, com proteções básicas nos ombros e cotovelos (e coluna, que pode ser retirada para dia-a-dia). Uso as vezes, seja para me proteger do sol em excesso nos braços, seja em viagens, pois ela protege e torna a experiência confortável também.

  • As vezes, vou de camisa de manga comprida mesmo e boa.

  • Jaqueta de couro? Só quando estiver frio.

  • Botas? Boas botas reforçadas, comuns: tenho uma da Harley mesmo (biqueira de aço), uma da Caterpillar (nada demais, estilo Timberland) e uma nipônica (resistente a água). Todas podem ser usadas no dia-a-dia, calor ou frio.

  • Calça? Jeans. Se achar o tal jeans com kevlar experimento... SE der para usar no dia a dia adoto.

  • Capacete? Na maior parte das vezes 3/4. Inclusive em estrada. Vou testar o fechado em estradas por questão de conforto. Acho que deve ser melhor em velocidade de cruzeiro... veremos.

E as vezes? Ando sem porra nenhuma... já andei até de bermuda para ir à academia.

Coloquei a venda a bota GP (pro torque out Dainese, vendida), armadura completa (ainda a venda)... e o que tenho, não uso sempre.

(meu equipamento, hoje. Parte dele quase nunca é usado)

Mas, Alex, e a segurança?

Vou dar uma resposta provavelmente reprovável, mas não sou politicamente correto e nem quero doutrinar ninguém, então dane-se:

Parte do motociclismo, PARA MIM, envolve perigo, exige coragem. Não, sério. Há um elemento de perigo, de aventura, que eu assumo no meu andar de moto. Escolha minha, arco com as consequências. Não peço, nem preciso, da aceitação de ninguém, apenas exijo respeito como qualquer pessoa.

Talvez sua opinião seja diferente. Talvez você goste de andar cheio de badulaques para se proteger de tudo. Para mim fico com a sensação de um motociclismo castrado, desvirtuado, desequilibrado. Mas não te impeço, mande ver, seja feliz, de verdade. Apenas se pergunte um dia: não estaria ainda mais seguro num carro logo? De preferência blindado?

Cada um, cada um, vai ver.

Pax.
 
 

sábado, 6 de abril de 2013

2k kms, motor envenenado, recepção à moda antiga parte 2 de 2.

E assim se sucedeu que cheguei ao meu destino. Eram oito horas da manhã de quinta-feira. Fiquei preocupado, pois tinha marcado de chegar na quarta de madrugada e deixar a Lily esfriando na oficina.

(campinas 5:30am... saindo para colocar a Lily no dina)

Não houve problema. Paulo (inho, os amigos estranham chama-lo de Paulo) me recebeu imediatamente e colocamos a Lily na esteira para ser desmontada. Ordem de serviço:
 
- Instalar o comando de válvulas da Kuryakyn: Minha preocupação era com o torque em baixa. Eu não ligo muito para HPs, mas adoro um motor que me dê uma quantidade imoral de torque em baixas rotações (resultados ao final). Me foi garantido que este comando seria satisfatório.
 
- Ajuste da moto no dinamômetro para conseguir tirar dela o melhor desempenho possível.
 
Imediatamente Paulinho e Marcão (deve ser coisa de Campinas... as pessoas são chamadas por aumentativos e diminutivos... achei mais seguro não perscrutar a fundo as razões disso) se debruçaram no serviço:
 
(Marcão e o estagiário)
 
Eis que eu resolvo comentar que minha moto está com mais de 6.000kms e pergunto se eles fazem revisão.
 
"Sim, fazemos"
"Uai, será que era uma boa adiantar a minha?"
"Vamos nessa!"
 
E assim foi feito. Com a maior boa vontade do mundo, NA BOCA DO FERIADO, essa equipe se debruçou por DOZE horas seguidas em cima da Lily (mais sábado, de seis da manhã até a hora do almoço):
 
- rolamentos trocados das duas rodas;
- bengala da direção estava SOLTA, ajustaram.
- graxa na caixa de direção (estava seca)
- eu disse que meu freio estava ruim. Não estava, estava inexistente. Obrigado Fantini por chamar minha atenção para esse fato. Como nunca andei em outra moto na vida, não tenho base de comparação para nada. Olha como resolveram para mim (na verdade eu quis... poderia ter apenas regulado o meu):
 
 
- Foram trocados todos os óleos pelos apropriados (bengala, primaria, motor etc).
 
Isso feito, ainda marcamos sábado para ajuste no dinamômetro. Tem um vídeo sobre isso ( http://www.youtube.com/watch?v=TrZbvlNMoIQ ), este post é sobre outra coisa.
 
A recepção. Eu fui recebido em Campinas como um familiar. O Paulinho literalmente me colocou dentro da casa dele. Conheci sua família, seu filho; fez questão de não me deixar sozinho na cidade, de fazer ou tour turístico. Isso é coisa que dificilmente vocês vão encontrar em qualquer outro lugar. Até no hotel me buscou e me levou, não tive que pegar um táxi sequer.
 
Resultado: Mais de 20 HPs na roda. A moto ficou ótima. Perdi um pouquinho de torque em baixa... creio pelo filtro novo bem livre. Mas isso será sanado no estágio III, final do ano. Serviço aprovado!
 
 

 
 
Eu recomendo a Garage Henn a qualquer pessoa, de qualquer lugar do Brasil. É barato? Não. Mas é justo o preço, e o pagamento é bem facilitado.
 
Acho que é um lugar que deve ser encorajado. Pela capacidade da equipe, e porque precisamos de mais gente assim neste mundo. Saí de lá como um cliente satisfeito, e ainda com novos amigos.
 
Obrigado Paulo(inho).
 
ps. ATENÇÃO: se forem a campinas, serão apresentados ao maior devaneio gastronômico do universo. Sabe o que é normal para aquele povo?


+



Eu NÃO estou brincando. Algum campinense maconheiro, provavelmente, inventou isso ao chegar as 4 horas da manhã em casa, cheio de larica, e só tinham essas iguarias na geladeira. Misturou, mandou ver... e virou tradição. Ah sim, a coisa pegou tanto que eles acham um ABSURDO hot-dog SEM purê de batata. Pior de tudo que é bom o bagulho. Eu nunca vou chamar de hot-dog, mas é bom.

É... um absurdo. Purê de batatas obviamente foi feito para ser colocado em quantidades industriais num pão para se comer com as mãos. Não lhe parece óbvio? Vá a Campinas.







sexta-feira, 5 de abril de 2013

2k kms, motor envenenado, recepção à moda antiga parte 1 de 2.

Semana santa.

Significa a semana na qual ocorreu a morte e ressurreição de Jesus Cristo. É singular ainda porque não tenho que trabalhar, o que também dá à semana um toque especial de espiritualidade.
 


 
Umas duas semanas antes resolvi, de impulso, ligar para São Paulo, Campinas, e falar com o Paulinho Henn, da Garage Henn. Conheci o Paulo pelo Fórum HD, e foi o primeiro profissional que me passou segurança de know how (aparentemente, não é só p***rima que mora longe, bons profissionais também... morar na roça do ES é osso).

Conversando com o Paulo, expliquei que havia trocado as ponteiras da Lily (minha FAT LO 2012), e que ela estava pipocando demais. Queria alternativas, e boas alternativas, nada de paliativos. Fui informado de que a melhor solução seria o SESTP (Screaming Eagle Super Tuner Pro), que permitiria uma boa reprogramação da IE aliada a troca do filtro.

Até aí tudo bem. Mas nem tudo são flores.
"Você tem que vir aqui para ajuste."
"Mas não pode me enviar por correio e mandar um mapa num CD?"
"Posso, mas não vai ficar a mesma coisa..."
"Tudo bem, vai ficar melhor do que está agora."
"Sim, mas vou deixar claro que, sem dinamômetro, não é 100%"

Avisado, comprei o aparelho e reprogramei a IE. A moto melhorou... mas a ideia de que ela não estava redonda me incomodava horrores. Eis que, se aproximando a semana santa, liguei para o Paulo novamente:
"Rapaz, vamos marcar Julho para reprogramar e fazer upgrade de motor? Eu até teria uma folga na semana santa, mas é feriado e você certamente não vai abrir"
"Você quer vir na semana santa?"
"Você vai abrir?"
"Se vier, sim"
E desse jeito, por impulso:
"Pode marcar... o que mais dá para fazer?"
"Assim, de surpresa, podemos fazer o stage II (comando de válvulas) do motor."
"Ok, trabalho até quarta 9:30am. Subo da moto e vou direto do trabalho para São Paulo."
 
Em teoria iria encontrar o Fantini em São Paulo, que iria um dia depois, mas ele veio com uma estória atravessada de que a moto dele deu "pane elétrica" (Chico me contou depois que era mentira. Ele tinha acabado de tirar a moto limpinha da oficina e estava chovendo demais na quinta, o que o fez ir de carro).
 
Com a mochila presa no Sissy, parti direto da faculdade para São Paulo, quarta-feira, 10:00h da manhã. Viagem tranquila pela 101 sentido Sul, até passar a fronteira ES-RJ.
 
 
 


  
 Depois de passar pela fronteira... obviamente... chuva. Cheguei no Rio de Janeiro, passei pela Av. Brasil, (engarrafamento de caminhões por quilômetros). Segui em direção a São Paulo. Queria ganhar tempo encarei a viagem noite adentro mesmo. O problema foi a chuva do cão. Mas nada que um café não resolva:
  

(veja os dedos da forma decadente... luvas não impermeáveis, de verão) 

 
Como nem tudo são flores, no tajeto RJ-SP, de madrugada, sob um dilúvio, o farol (é...) QUEIMA:
 
  
 
 
Aí foi meu limite. Parei num motel de beira de estrada e apaguei por quatro horas. Banho tomado e meias secas, peguei os últimos 250kms de viagem. Cheguei atrasado, devido a parada forçada, chuva etc, mas estou aprendendo a usar a Lily na estrada. Livros e livros de contra esterço, somados a horas e horas de treino (e, como diz quem me conhece, uma falta absoluta de bom-senso e medo de morrer):
 
  
(perdi o alforge, mas ganhei em riding skill! Aquilo ali é raspando no asfalto sim).
 
 
E assim terminou minha primeira parte da viagem. Cheguei são e salvo, oito horas da manhã da quinta-feira (28-03-2013), em Campinas, na Garage Henn.
 
<continua em outro post>




terça-feira, 5 de março de 2013

Capotaria - Papai Noel - 28/02/2013

Algumas coisas a gente não prevê.

Há uma certa limitação na minha forma de ver o mundo. Eu vejo uma cidade com pontos de referência, e caminhos que os ligam. Minha cidade adotada consiste numa rede de cafés, restaurantes, bares, shoppings e trabalho. Entre tudo isso, há uma massa uniforme de paisagem sem identidade ou propósito específico. Somado ao hábito de andar lacrado em vidros fechados, ar condicionado e música, o isolamento é total.

Parar no meio do nada pode ser uma surpresa. Ali, no meio do (meu) nada, numa tarde besta de quinta-feira, me deparo com um senhor numa máquina de costura em sua varanda. Em cima os dizeres: capotaria Darlo.

Impulsivamente parei a moto. Afinal, meu sissy bar apresenta problemas, o alforge está arranhando a pintura e a bolsa que fica na frente do farol insiste em abrir acima de 12x... bem... 60 km/h.


 
Sou imediatamente recebido pelo Darlô, e resolvi perguntar:
 
- Será que o senhor poderia me ajudar? A alfomada do meu encosto não encaixa perfeitamente, então será que o senhor poderia fazer outra, um pouco maior?
 
- <depois de sair, olhar, tirar medidas etc> Sim, passe aqui amanhã e pegue.
 
- Só isso?
 
- Sim, não se preocupe.
 
- Oooook. E esse alforge, ele está arranhando a pintura, pois a parte de trás é de plástico e ainda apresenta rebites de metal que se chocam com o quadro da moto. Há algo a ser feito?
 
- Deixe aqui também. Retorne as 15h.
 
 
 
 
Com isso fui embora... deixei um alforge e só. Não tinha muitas expectativas. Afinal foi algo aleatório de uma paisagem que, até então, não tinha identidade ou propósito. Cheguei a comentar com um colega do mundo das motos. Nas palavras dele "Capoteiro que entrega algo em um dia? Papai Noel existe se isso acontecer!".
 
 
Pois bem, sexta-feita, 14h (1 hora mais cedo) me dirijo ao lugar. Estava curioso para ver o que tinha acontecido. Sou imediatamente recebido por dimenor:
 
 
 
Enquanto dimenor de diverte mordendo minha mão, Darlô me explica que o material está pronto, apensas precisará de alguns ajustes que podem ser feitos depois. Primeiro o mais importante: se o encosto ficou com espuma boa, e se ficou um pouco maior, como pedi:
 
 
 
Exatamente o que eu queria. Está fixo por 3 parafusos, não gira mais. Não ficou assim perfeito. Precisa de um couro mais grosso e uns ajustes atrás. Todos os ajustes incluídos no trabalho que o senhor fará posteriormente. Quero andar um pouco antes.
 
E o alforge? Não há mais parte de trás de plástico e tampouco rebites arranhando minha pintura (prontamente consertada num funileiro ótimo: conto em outra ocasião):
 
 
 
 
Para finalizar, ainda colocou um velcro básico na minha bolsa. Agora ela não abre mais em 12x... 60km/h.
 
Tudo resolvido, inevitavelmente ele me contou um pouco da história dele. Baiano, morando aqui a 40 anos, naquela mesma casa, trabalhando na mesma varanda. Coisas da vida. E o preço? 100 reais... tudo, incluindo o ajuste depois. Já vi lugar querendo vender almofada por R$500,00.
 
No final, ao ir embora, eu tenho certeza que meu mundo ainda é pequeno, mas ficou um pouco maior. Agora minha cidade adotada consiste numa rede de cafés, restaurantes, shoppings, trabalho, bares, capotaria do Darlo e a possibilidade de encontrar outros lugares assim. Ficou perfeito? Não. Precisava? Para mim, não.
 
Ps. Neste dia, Papai Noel existiu, afinal.
 
Pax.