quarta-feira, 24 de abril de 2013

Motociclismo - segurança, coragem, filosofia de boteco...

Mais um rascunho da história de formação de um motociclista/motoqueiro/motowhatever.

Uma das minhas primeiras preocupações foi a segurança. Veja bem. Eu não tinha CNH... eu tinha comprado uma moto, e achei razoável a ideia de investir naquilo que há de bom e melhor.

(quanto mais melhor?)

Como resultado aproveitei que estava fora da terra pátria e saí comprando. Era um tal de armadura, jaquetas de couro, botas estilo Valentino Rossi, luvas reforçadas, capacetes de marca... enfim, deu para sentir o drama, certo?

Pois então: cheguei de viagem, peguei minha moto e comecei a brincar de motoqueiro. Jaqueta de couro é ótima... até você pegar 35 graus e sol na nuca meio dia parado no sinal. Bota armadura é ótima... na vitrine; é desconfortável, dura demais e você parece um figurante de seriado japonês. O capacete então foi uma desgraça... eu uso óculos... para colocar e tirar era uma merda. E eu estava perdido no Rio. Cada vez que eu queria pedir informações era um martírio.


Some a isso o problema do volume da tralha toda que você carrega para cima e para baixo. A verdade é que essas coisas estavam me desanimando de andar de moto. Eu andava ainda... mas o prazer era mitigado por um desconforto crescente.

E então, aos poucos, percebi que a resposta para o meu motociclismo (leia-se, MEU) poderia ser expressa pelo pensamento de Aristóteles (o grego mesmo). Veja bem, Aristóteles deixou uma ideia genial de que a virtude é um equilíbrio que pode gerar vício por DUAS formas: falta e... pasmem... excesso:

está na natureza dessas coisas [virtudes] o serem destruídas pela falta e pelo excesso [...]  Tanto a deficiência como o excesso de exercício destroem a força; [...] O mesmo acontece com a temperança, a coragem e as outras virtudes, pois o homem que a tudo teme e de tudo foge, não fazendo frente a nada, torna-se um covarde, e o homem que não teme absolutamente nada, mas vai ao encontro de todos os perigos, torna-se temerário [Aristóteles, Ética a Nicômaco]

O excesso de segurança, no meu caso, estava estragando, dentre outras coisas, minha própria segurança: eu não me concentrava direito, me irritava com o excesso de coisas, me reduzia o prazer. A solução? Achar, racionalmente, o meio-termo. É entre o excesso e a falta que encontrei MEU equilíbrio. Não tenho vocação para andar que nem astronauta, nem para acreditar que uma bandana na cabeça me protegerá de todos os males. Alguns exemplos:

  • Luvas? Gosto, uso sempre com prazer.

  • Jaqueta? Tenho uma de verão, com proteções básicas nos ombros e cotovelos (e coluna, que pode ser retirada para dia-a-dia). Uso as vezes, seja para me proteger do sol em excesso nos braços, seja em viagens, pois ela protege e torna a experiência confortável também.

  • As vezes, vou de camisa de manga comprida mesmo e boa.

  • Jaqueta de couro? Só quando estiver frio.

  • Botas? Boas botas reforçadas, comuns: tenho uma da Harley mesmo (biqueira de aço), uma da Caterpillar (nada demais, estilo Timberland) e uma nipônica (resistente a água). Todas podem ser usadas no dia-a-dia, calor ou frio.

  • Calça? Jeans. Se achar o tal jeans com kevlar experimento... SE der para usar no dia a dia adoto.

  • Capacete? Na maior parte das vezes 3/4. Inclusive em estrada. Vou testar o fechado em estradas por questão de conforto. Acho que deve ser melhor em velocidade de cruzeiro... veremos.

E as vezes? Ando sem porra nenhuma... já andei até de bermuda para ir à academia.

Coloquei a venda a bota GP (pro torque out Dainese, vendida), armadura completa (ainda a venda)... e o que tenho, não uso sempre.

(meu equipamento, hoje. Parte dele quase nunca é usado)

Mas, Alex, e a segurança?

Vou dar uma resposta provavelmente reprovável, mas não sou politicamente correto e nem quero doutrinar ninguém, então dane-se:

Parte do motociclismo, PARA MIM, envolve perigo, exige coragem. Não, sério. Há um elemento de perigo, de aventura, que eu assumo no meu andar de moto. Escolha minha, arco com as consequências. Não peço, nem preciso, da aceitação de ninguém, apenas exijo respeito como qualquer pessoa.

Talvez sua opinião seja diferente. Talvez você goste de andar cheio de badulaques para se proteger de tudo. Para mim fico com a sensação de um motociclismo castrado, desvirtuado, desequilibrado. Mas não te impeço, mande ver, seja feliz, de verdade. Apenas se pergunte um dia: não estaria ainda mais seguro num carro logo? De preferência blindado?

Cada um, cada um, vai ver.

Pax.
 
 

sábado, 6 de abril de 2013

2k kms, motor envenenado, recepção à moda antiga parte 2 de 2.

E assim se sucedeu que cheguei ao meu destino. Eram oito horas da manhã de quinta-feira. Fiquei preocupado, pois tinha marcado de chegar na quarta de madrugada e deixar a Lily esfriando na oficina.

(campinas 5:30am... saindo para colocar a Lily no dina)

Não houve problema. Paulo (inho, os amigos estranham chama-lo de Paulo) me recebeu imediatamente e colocamos a Lily na esteira para ser desmontada. Ordem de serviço:
 
- Instalar o comando de válvulas da Kuryakyn: Minha preocupação era com o torque em baixa. Eu não ligo muito para HPs, mas adoro um motor que me dê uma quantidade imoral de torque em baixas rotações (resultados ao final). Me foi garantido que este comando seria satisfatório.
 
- Ajuste da moto no dinamômetro para conseguir tirar dela o melhor desempenho possível.
 
Imediatamente Paulinho e Marcão (deve ser coisa de Campinas... as pessoas são chamadas por aumentativos e diminutivos... achei mais seguro não perscrutar a fundo as razões disso) se debruçaram no serviço:
 
(Marcão e o estagiário)
 
Eis que eu resolvo comentar que minha moto está com mais de 6.000kms e pergunto se eles fazem revisão.
 
"Sim, fazemos"
"Uai, será que era uma boa adiantar a minha?"
"Vamos nessa!"
 
E assim foi feito. Com a maior boa vontade do mundo, NA BOCA DO FERIADO, essa equipe se debruçou por DOZE horas seguidas em cima da Lily (mais sábado, de seis da manhã até a hora do almoço):
 
- rolamentos trocados das duas rodas;
- bengala da direção estava SOLTA, ajustaram.
- graxa na caixa de direção (estava seca)
- eu disse que meu freio estava ruim. Não estava, estava inexistente. Obrigado Fantini por chamar minha atenção para esse fato. Como nunca andei em outra moto na vida, não tenho base de comparação para nada. Olha como resolveram para mim (na verdade eu quis... poderia ter apenas regulado o meu):
 
 
- Foram trocados todos os óleos pelos apropriados (bengala, primaria, motor etc).
 
Isso feito, ainda marcamos sábado para ajuste no dinamômetro. Tem um vídeo sobre isso ( http://www.youtube.com/watch?v=TrZbvlNMoIQ ), este post é sobre outra coisa.
 
A recepção. Eu fui recebido em Campinas como um familiar. O Paulinho literalmente me colocou dentro da casa dele. Conheci sua família, seu filho; fez questão de não me deixar sozinho na cidade, de fazer ou tour turístico. Isso é coisa que dificilmente vocês vão encontrar em qualquer outro lugar. Até no hotel me buscou e me levou, não tive que pegar um táxi sequer.
 
Resultado: Mais de 20 HPs na roda. A moto ficou ótima. Perdi um pouquinho de torque em baixa... creio pelo filtro novo bem livre. Mas isso será sanado no estágio III, final do ano. Serviço aprovado!
 
 

 
 
Eu recomendo a Garage Henn a qualquer pessoa, de qualquer lugar do Brasil. É barato? Não. Mas é justo o preço, e o pagamento é bem facilitado.
 
Acho que é um lugar que deve ser encorajado. Pela capacidade da equipe, e porque precisamos de mais gente assim neste mundo. Saí de lá como um cliente satisfeito, e ainda com novos amigos.
 
Obrigado Paulo(inho).
 
ps. ATENÇÃO: se forem a campinas, serão apresentados ao maior devaneio gastronômico do universo. Sabe o que é normal para aquele povo?


+



Eu NÃO estou brincando. Algum campinense maconheiro, provavelmente, inventou isso ao chegar as 4 horas da manhã em casa, cheio de larica, e só tinham essas iguarias na geladeira. Misturou, mandou ver... e virou tradição. Ah sim, a coisa pegou tanto que eles acham um ABSURDO hot-dog SEM purê de batata. Pior de tudo que é bom o bagulho. Eu nunca vou chamar de hot-dog, mas é bom.

É... um absurdo. Purê de batatas obviamente foi feito para ser colocado em quantidades industriais num pão para se comer com as mãos. Não lhe parece óbvio? Vá a Campinas.







sexta-feira, 5 de abril de 2013

2k kms, motor envenenado, recepção à moda antiga parte 1 de 2.

Semana santa.

Significa a semana na qual ocorreu a morte e ressurreição de Jesus Cristo. É singular ainda porque não tenho que trabalhar, o que também dá à semana um toque especial de espiritualidade.
 


 
Umas duas semanas antes resolvi, de impulso, ligar para São Paulo, Campinas, e falar com o Paulinho Henn, da Garage Henn. Conheci o Paulo pelo Fórum HD, e foi o primeiro profissional que me passou segurança de know how (aparentemente, não é só p***rima que mora longe, bons profissionais também... morar na roça do ES é osso).

Conversando com o Paulo, expliquei que havia trocado as ponteiras da Lily (minha FAT LO 2012), e que ela estava pipocando demais. Queria alternativas, e boas alternativas, nada de paliativos. Fui informado de que a melhor solução seria o SESTP (Screaming Eagle Super Tuner Pro), que permitiria uma boa reprogramação da IE aliada a troca do filtro.

Até aí tudo bem. Mas nem tudo são flores.
"Você tem que vir aqui para ajuste."
"Mas não pode me enviar por correio e mandar um mapa num CD?"
"Posso, mas não vai ficar a mesma coisa..."
"Tudo bem, vai ficar melhor do que está agora."
"Sim, mas vou deixar claro que, sem dinamômetro, não é 100%"

Avisado, comprei o aparelho e reprogramei a IE. A moto melhorou... mas a ideia de que ela não estava redonda me incomodava horrores. Eis que, se aproximando a semana santa, liguei para o Paulo novamente:
"Rapaz, vamos marcar Julho para reprogramar e fazer upgrade de motor? Eu até teria uma folga na semana santa, mas é feriado e você certamente não vai abrir"
"Você quer vir na semana santa?"
"Você vai abrir?"
"Se vier, sim"
E desse jeito, por impulso:
"Pode marcar... o que mais dá para fazer?"
"Assim, de surpresa, podemos fazer o stage II (comando de válvulas) do motor."
"Ok, trabalho até quarta 9:30am. Subo da moto e vou direto do trabalho para São Paulo."
 
Em teoria iria encontrar o Fantini em São Paulo, que iria um dia depois, mas ele veio com uma estória atravessada de que a moto dele deu "pane elétrica" (Chico me contou depois que era mentira. Ele tinha acabado de tirar a moto limpinha da oficina e estava chovendo demais na quinta, o que o fez ir de carro).
 
Com a mochila presa no Sissy, parti direto da faculdade para São Paulo, quarta-feira, 10:00h da manhã. Viagem tranquila pela 101 sentido Sul, até passar a fronteira ES-RJ.
 
 
 


  
 Depois de passar pela fronteira... obviamente... chuva. Cheguei no Rio de Janeiro, passei pela Av. Brasil, (engarrafamento de caminhões por quilômetros). Segui em direção a São Paulo. Queria ganhar tempo encarei a viagem noite adentro mesmo. O problema foi a chuva do cão. Mas nada que um café não resolva:
  

(veja os dedos da forma decadente... luvas não impermeáveis, de verão) 

 
Como nem tudo são flores, no tajeto RJ-SP, de madrugada, sob um dilúvio, o farol (é...) QUEIMA:
 
  
 
 
Aí foi meu limite. Parei num motel de beira de estrada e apaguei por quatro horas. Banho tomado e meias secas, peguei os últimos 250kms de viagem. Cheguei atrasado, devido a parada forçada, chuva etc, mas estou aprendendo a usar a Lily na estrada. Livros e livros de contra esterço, somados a horas e horas de treino (e, como diz quem me conhece, uma falta absoluta de bom-senso e medo de morrer):
 
  
(perdi o alforge, mas ganhei em riding skill! Aquilo ali é raspando no asfalto sim).
 
 
E assim terminou minha primeira parte da viagem. Cheguei são e salvo, oito horas da manhã da quinta-feira (28-03-2013), em Campinas, na Garage Henn.
 
<continua em outro post>