quarta-feira, 22 de maio de 2013

Viajar sob a chuva... e à noite? ES-SP sob as águas.

Viajar à noite sempre dá medo. Sempre que se fala no assunto, muitos tem calafrios e perguntam: "Você é louco? É perigoso!". Ligam a noite, instintivamente, à possibilidade de morrer. É de se esperar, pois até os gregos acreditavam que a morte nasceu da noite  (do grego antigo: Νύξ, "night", mãe de Thanatos, a morte).


( At Museum of NY: Detail of Nyx, the goddess of the night, driving her chariot down from the sky with the rising of the sun-god Helios.)
 
É, é perigoso sim.
Não, não desisto. Não é perigo que vai me afastar da estrada, mas sobre isso já falei em outro <lugar>.
Assim, ao sair do trabalho na sexta feira, 17/05/2013, 22:40h (estão achando que é fácil manter a Lily? Como toda mulher refinada, é cara: she has expensive tastes), subi na moto com a velha calça jeans, camisa, jaqueta de couro e luvas no corpo; uma bermuda, cueca e par de meias no alforge e segui para Campinas.

Meus planos, inicialmente, eram simples (não é assim que sempre começa?): pegar a moto, seguir até o início da estrada, dormir umas 4 horas num motel qualquer, depois seguir viagem. Eis que, checando o celular, me deparo com a deprimente mensagem, enviada pelos meus amigos legais que se deleitam com a miséria alheia:



Então era assim. Chuva de fechar aeroportos seguindo... na minha direção... vindo... do meu destino. Fala sério! Minha solução? Desistir? Nem passou pela minha cabeça, sacudi o cansaço de uma semana de trabalho e resolvi pilotar até dar de cara com a chuva. Assim que isso acontecesse, iria procurar um lugar para dormir.

Pilotar à noite, me desculpem os fanáticos por segurança, é uma das melhores experiências que você pode ter. É difícil colocar em palavras, tem que ser vivenciado, nem que seja para falar que não gostou. Mas não conheço solidão maior que pilotar na estrada, de madrugada, com apenas seu farol iluminando a pista. Adepto do "O inferno são os outros" como eu sou, é um experiência e tanto.

Voltando, saí do estacionamento e peguei meu rumo em direção a br 101-->av. Brasil--> Dutra. Peguei chuviscos, chuva fraca, continuei, meu casaco coxa da Harley (mais discreto que o do Fantini) segurou a chuva legal. Aqui a estrada ruim causa tensão, uma vez que, apesar de não haver buracos, não há sinalização nem sequer faixa delimitando o meio da pista. Some a isso a chuva e eu adotei minha técnica gambiarra: Escolhi um caminhão andando a mais de 80km/h, dei uma distância boa e segui a luz de freio. Daí eu seguia pelas faixas do pneu e qualquer oscilação indicaria buracos na pista. Foi tranquilo... passada essa parte segui normalmente.

Quando cheguei em Campos, horas depois, começou a chover canivete com força. Parei no posto BR para abastecer (e responder as enjoadas questões de quantas cilindradas tem a moto, quanto já dei nela etc) e parei no terceiro hotel, pagando 45 reais por uma noite com ar condicionado, banho quente e café da manhã (tosco, mas quem está reclamando?).

Cinco horas depois, pé na estrada e uma tranquila e entediante (que desgraça de radares na Dutra) viagem para Campinas. 19h, aproximadamente, passo o último pedágio e sou instruído por Paulinho Henn a ir DIRETO para um PUB. É, direto, sem direito a descanso nem nada... fazer o que, vamos nessa! Lá sou recebido com todas as honras (leia-se, n.7) e espanto por ter encarado 1000kms à noite, só de jeans e jaqueta de couro (sem inveja Fantini, a sua chama mais atenção!).


"Mas você é louco, não usou calça de couro?"
"er... não, não quis ingressar no < Blue Oyster Bar >." (perco amigos, piada nunca).
"E o frio, e a chuva?"

Como disse Raul Seixas: "É minha amiga, e não vou me resfriar."

 

Já que motowhatevers (acho que vou escolher essa denominação para mim) gostam tanto de falar em batismo, talvez este tenha sido o meu. Com direito a toda água que alguém poderia desejar, e mais um pouco.

Pax.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Harley Davidson: apenas uma motocicleta ou estilo de vida?


Se tenho que explicar, você não entenderia.

Motto de algumas pessoas que andam em Harleys. Mas meu foco será um pouco diferente. Eu não vou passar páginas explicando a origem de MCs ou a história da Harley Davidson. Não faço parte de motoclube nem tenho 1903 tatuado no meu corpo. O que segue é uma impressão que ficou, em última análise negativa, a respeito dos posicionamentos de integrantes do mundo do motociclismo.

Muitas pessoas assumem que essa frase significa uma superioridade da Harley em relação a toda a plebe do universo (aqueles que não tem harley... mais os que tem subharleys, como sportsters ou até, valha-me, v-rods). Possuir uma Harley de verdade significa andar sobre um Big Twin apropriado (96"+... ou 88", 74"... para saudosistas), legitimando-o como um Aristoi (um dos melhores, excelentes, entre pessoas comuns). Semelhante à autoridade conferida a Arthur pela Excalibur, essas criaturas desfilam, considerando tudo aquilo que caminha sobre as estradas seus súditos por hierarquia natural. Esses indivíduos costumam andar com o maior número de badulaques produzidos pela marca e, reza a lenda, realizam um concurso de quem consegue chegar ao final de cada ano com a menor kilometragem possível.

 ( quem serve quem? )

Do outro lado da moeda, você tem os caras "too cool for school" (no, really, go learn English). Esses são uma raça curiosíssima. Eles sentam o pau na Harley, dizem que o ditado é pura babaquice, que estão muito acima disso... mas ANDAM DE HARLEY. Eles inventam mil desculpas, mas a verdade é que eles poderiam a qualquer momento trocar a moto deles por uma melhor e mais barata, de um ponto de vista utilitarista. Afinal, "qualquer moto chega a qualquer lugar" (a não ser que você tenha 150 kilos e queira subir a serra de pop 100). No fim, gostam da marca mas não querem ser taxados de harley fans, ou piolhos de concessionária. Então se escondem atrás de um sorriso de desprezo, a la Devil May Care, e estocam tudo aquilo relacionado a marca embaixo da cama para dormirem abraçadinhos quando apagam as luzes para dormir, sem testemunhas.

(sou tão cool pagando para usar uma camisa "contra cultura"... mas montado na minha Harley. E de preferência sem saber a razão da crise que gerou isso.)
 

Eu... honestamente, acho que são dois extremos de comportamento que se merecem. São dois extremos de arrogância que, simplesmente, não nutro a necessária paciência, ou amor a humanidade, para ficar perto por muito tempo.

Então tá... eu não acho que Harleys são a única forma de conhecer o verdadeiro motociclismo... também não acho que elas sejam "meras motocicletas caras demais e sem nada especial frente as outras". So what? Onde diabos me posiciono?

O ditado do início do texto faz sentido, para mim.

Eu gosto da minha moto por ela ser uma máquina adequada para viagem. Motor forte, torque violento, confortável, com visual que eu curto e som que dá gosto. Reconheço que há outras motos boas no mercado, que andam tanto ou muito mais que a minha, que são mais baratas e tal.

Entretanto, minha visão de mundo não é apenas utilitarista, é também cultural. Me agrada saber que a moto que eu tenho foi marcante na história americana, que eu gosto. Me agrada saber que ela deixou sua marca na forma como vemos o motociclismo. A tradição da marca não pertence apenas aos donos, muito menos às concesionárias atuais. Se as coisas não vão bem, vou brigar para melhorá-las, pois a história é pública (mas eles ficam mais ricos do que eu, fazer o que?).

Para quem não dá tanta importância à questão de contexto, história americana (ou em geral), ou é um pouco mais utilitarista, acho válido escolher dentre as diversas boas marcas no mercado e isso não diminui em nada a experiência da pessoa. Mas não venha me dizer que isso seria igual para mim pois não seria. Não troco minha moto (quem sabe isso muda um dia), pois ela me traz um prazer tanto pela máquina quanto pelo contexto da marca. Assumo.

No final, por que se diz que não dá para explicar? Bem, por completo não dá mesmo. Como explicar o prazer de andar numa moto durante 20 horas... cobrir mais de 1000kms (ou coloque aqui qualquer número que ache bom) sob dia, noite, calor, frio, sol, chuva, barro, para quem nunca viveu isso? Como explicar aquele momento onde o mundo é você, a moto e a estrada... somado (para mim) o fato de eu estar realizando isso com uma marca que eu respeito, independente da situação atual, pelo seu papel na história? Para quem dá importância, a experiência na Harley é diferente sim, e difícil de explicar mesmo... para quem não liga, ou prefere outras marcas, que essa pessoa ande em qualquer moto e terá o mesmo prazer, repito, sem diminuí-la em NADA (ou tenha essa relação com outra marca: indian, bmw, honda, sei lá).

Mas puta merda: para aqueles que acham que Harley é melhor coisa do mundo não apenas para eles, mas para todo o universo... para aqueles que andam de Harley, não trocam mas ficam com firula de assumir que gostam e respeitam  marca (enrustidos!), uma dica: Vão sentar num poste... com cerol.

Pax.


Sugestões para leitura:

http://www.amazon.com/American-Biker-History-Clubs-Lifestyle/dp/0615375952/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1368720256&sr=8-1&keywords=american+biker

http://www.amazon.com/Hells-Angel-Barger-Angels-Motorcycle/dp/0060937548/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720314&sr=1-1&keywords=sonny+barger

http://www.amazon.com/Hells-Angels-Strange-Terrible-Library/dp/067960331X/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-2&keywords=booze+fighters

http://www.amazon.com/Original-Wild-Ones-Boozefighters-Motorcycle/dp/0760335370/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-1&keywords=booze+fighters   (este último não li ainda, acabei de comprar... indicação porca essa ahahahah)