quarta-feira, 15 de maio de 2013

Harley Davidson: apenas uma motocicleta ou estilo de vida?


Se tenho que explicar, você não entenderia.

Motto de algumas pessoas que andam em Harleys. Mas meu foco será um pouco diferente. Eu não vou passar páginas explicando a origem de MCs ou a história da Harley Davidson. Não faço parte de motoclube nem tenho 1903 tatuado no meu corpo. O que segue é uma impressão que ficou, em última análise negativa, a respeito dos posicionamentos de integrantes do mundo do motociclismo.

Muitas pessoas assumem que essa frase significa uma superioridade da Harley em relação a toda a plebe do universo (aqueles que não tem harley... mais os que tem subharleys, como sportsters ou até, valha-me, v-rods). Possuir uma Harley de verdade significa andar sobre um Big Twin apropriado (96"+... ou 88", 74"... para saudosistas), legitimando-o como um Aristoi (um dos melhores, excelentes, entre pessoas comuns). Semelhante à autoridade conferida a Arthur pela Excalibur, essas criaturas desfilam, considerando tudo aquilo que caminha sobre as estradas seus súditos por hierarquia natural. Esses indivíduos costumam andar com o maior número de badulaques produzidos pela marca e, reza a lenda, realizam um concurso de quem consegue chegar ao final de cada ano com a menor kilometragem possível.

 ( quem serve quem? )

Do outro lado da moeda, você tem os caras "too cool for school" (no, really, go learn English). Esses são uma raça curiosíssima. Eles sentam o pau na Harley, dizem que o ditado é pura babaquice, que estão muito acima disso... mas ANDAM DE HARLEY. Eles inventam mil desculpas, mas a verdade é que eles poderiam a qualquer momento trocar a moto deles por uma melhor e mais barata, de um ponto de vista utilitarista. Afinal, "qualquer moto chega a qualquer lugar" (a não ser que você tenha 150 kilos e queira subir a serra de pop 100). No fim, gostam da marca mas não querem ser taxados de harley fans, ou piolhos de concessionária. Então se escondem atrás de um sorriso de desprezo, a la Devil May Care, e estocam tudo aquilo relacionado a marca embaixo da cama para dormirem abraçadinhos quando apagam as luzes para dormir, sem testemunhas.

(sou tão cool pagando para usar uma camisa "contra cultura"... mas montado na minha Harley. E de preferência sem saber a razão da crise que gerou isso.)
 

Eu... honestamente, acho que são dois extremos de comportamento que se merecem. São dois extremos de arrogância que, simplesmente, não nutro a necessária paciência, ou amor a humanidade, para ficar perto por muito tempo.

Então tá... eu não acho que Harleys são a única forma de conhecer o verdadeiro motociclismo... também não acho que elas sejam "meras motocicletas caras demais e sem nada especial frente as outras". So what? Onde diabos me posiciono?

O ditado do início do texto faz sentido, para mim.

Eu gosto da minha moto por ela ser uma máquina adequada para viagem. Motor forte, torque violento, confortável, com visual que eu curto e som que dá gosto. Reconheço que há outras motos boas no mercado, que andam tanto ou muito mais que a minha, que são mais baratas e tal.

Entretanto, minha visão de mundo não é apenas utilitarista, é também cultural. Me agrada saber que a moto que eu tenho foi marcante na história americana, que eu gosto. Me agrada saber que ela deixou sua marca na forma como vemos o motociclismo. A tradição da marca não pertence apenas aos donos, muito menos às concesionárias atuais. Se as coisas não vão bem, vou brigar para melhorá-las, pois a história é pública (mas eles ficam mais ricos do que eu, fazer o que?).

Para quem não dá tanta importância à questão de contexto, história americana (ou em geral), ou é um pouco mais utilitarista, acho válido escolher dentre as diversas boas marcas no mercado e isso não diminui em nada a experiência da pessoa. Mas não venha me dizer que isso seria igual para mim pois não seria. Não troco minha moto (quem sabe isso muda um dia), pois ela me traz um prazer tanto pela máquina quanto pelo contexto da marca. Assumo.

No final, por que se diz que não dá para explicar? Bem, por completo não dá mesmo. Como explicar o prazer de andar numa moto durante 20 horas... cobrir mais de 1000kms (ou coloque aqui qualquer número que ache bom) sob dia, noite, calor, frio, sol, chuva, barro, para quem nunca viveu isso? Como explicar aquele momento onde o mundo é você, a moto e a estrada... somado (para mim) o fato de eu estar realizando isso com uma marca que eu respeito, independente da situação atual, pelo seu papel na história? Para quem dá importância, a experiência na Harley é diferente sim, e difícil de explicar mesmo... para quem não liga, ou prefere outras marcas, que essa pessoa ande em qualquer moto e terá o mesmo prazer, repito, sem diminuí-la em NADA (ou tenha essa relação com outra marca: indian, bmw, honda, sei lá).

Mas puta merda: para aqueles que acham que Harley é melhor coisa do mundo não apenas para eles, mas para todo o universo... para aqueles que andam de Harley, não trocam mas ficam com firula de assumir que gostam e respeitam  marca (enrustidos!), uma dica: Vão sentar num poste... com cerol.

Pax.


Sugestões para leitura:

http://www.amazon.com/American-Biker-History-Clubs-Lifestyle/dp/0615375952/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1368720256&sr=8-1&keywords=american+biker

http://www.amazon.com/Hells-Angel-Barger-Angels-Motorcycle/dp/0060937548/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720314&sr=1-1&keywords=sonny+barger

http://www.amazon.com/Hells-Angels-Strange-Terrible-Library/dp/067960331X/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-2&keywords=booze+fighters

http://www.amazon.com/Original-Wild-Ones-Boozefighters-Motorcycle/dp/0760335370/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1368720341&sr=1-1&keywords=booze+fighters   (este último não li ainda, acabei de comprar... indicação porca essa ahahahah)




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